Na manhã daquela terça-feira, acordou depois das oito e não encontrou a mãe em casa. Até imaginou onde estaria, e a certeza do curto período nos braços da solidão desestimulou-na. Não queria pegar sua prancheta para tentar desenhar.
Perto das onze horas da manhã, o céu acinzentado cedeu espaço para um enorme envolto azul-claro. Jurou que as nuvens se afastaram para que todos fitassem aquela atmosfera de um verão que não desejava partir.
- Desculpem, - respondeu mentalmente às nuvens, como se pudessem ouvi-la – ainda prefiro a chuva... O cheiro, o som, a friagem – retrucou.
Afugentou a claridade fechando a cortina, beijou a gata siamesa que dormia no pé de sua cama e entrou no banheiro para tomar uma ducha fria. Estava suada e não gostava do calor. Tirou a roupa com rapidez e se jogou debaixo da água sorrindo.
Imaculada. O reflexo dos raios do sol que adentravam pela janela, cristalizavam os fios límpidos que jorravam do chuveiro. Parte do seu corpo ardia como fogo em brasa. A outra metade permanecia pálida, intocável, porque as mesmas luzes não conseguiam alcançá-la por inteiro.
- Histórias... – pensou esquecendo o lugar onde estava. – Boas ou ruins... foram boas em algum instante... Ou ruins em outro... O importante é vivenciá-las.
RODAPÉ
Trilha sonora de Titanic.
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