Tuesday, March 3

Ilusão?

Quando foi mesmo que achei que a vida dos escritores era divertida, e decidi por me tornar uma também, hein? Como foi que eu descobri mesmo que nasci para escrever livros?... Às vezes parece que tudo é muito fácil, mas a minha escolha é uma opção muito autoflageladora (e eu nem sei se é assim que escreve!).


Durante esses anos de escrita, descrições, narrativas (...), acabei chegando numas conclusões bizarras sobre esse processo criativo. Ontem à noite, fiz questão de enumerar e anotar algumas dessas enfermidades. Segue:

1) Todo escritor, ou sua grande maioria, cria mundos/universos onde gostaria de morar que não é o seu de origem (uma frustração);

2) Todo escritor, ou sua grande maioria, é solitário, e apesar da pouca aventura vivenciada, carrega mais dramas vividos que todo o continente africano;

3) Todo escritor, ou sua grande maioria, gostaria de ser o personagem principal de sua obra, mas não é, o que acaba gerando uma espécie de inveja psicológica que parte do próprio criador;

4) Todo escritor, ou sua grande maioria, atravessa inúmeras guerras internas – quando não estouram numa depressão filhadaputa, se transformam em ansiedade, insônia, dependência química (café e chocolates) ou alguma coisa no estômago (ex: gastrite);

5) Todo escritor, ou sua grande maioria, acha que a vida perde o sentido quando não está escrevendo ou produzindo... entra numa espécie de “nadismo negativo” da criatividade;

6) Todo escritor, ou sua grande maioria, sofrerá de amor pelo resto da vida. É uma droga que nunca parece fazer bem – se consegue a pessoa desejada, a vida fica certinha e sem graça; se perde ou não conquista, é àquela lamentação mortal;

7) Todo escritor, ou sua grande maioria, sonha demais, vive muito pouco, tem pouquíssimos amigos do peito ou que leriam suas histórias (de fato), mas geralmente gozam disso como se fosse a visão dos céus;

8) Todo escritor, ou sua grande maioria, não tem prazo para finalizar suas obras, é chefe de si mesmo e geralmente acha que nunca vai terminar o que gostaria de escrever;

9) Todo escritor, ou sua grande maioria, ganha muito mal e sonha com um lugar entre os dez mais vendidos no mundo;

10) Todo escritor, ou sua grande maioria, tem amnésia porque não está completamente fixado nesta realidade. Tudo que ele faz é especular como seriam as coisas se tivessem acontecido de maneira diferente (aí ele cria uma nova história...);

11) Todo escritor, ou sua grande maioria, sente necessidade de extravasar. Até dizem que vão fazer isso. Mas nunca o fazem. Sempre acontecerá uma coisa para impedi-lo;

12) Todo escritor, ou sua grande maioria, vive no blog ou no MSN, mas não está satisfeitos e a internet é uma dependência (codenome chatiação);

13) Todo escritor, ou sua grande maioria, sente a incompletude;

14) Todo escritor, ou sua grande maioria, acha que seus bichinhos de estimação são as únicas “pessoas” (é: “pessoas”!) capazes de entendê-los;

15) Todo escritor, ou sua grande maioria, poderia passar horas filosofando coisas estranhas – como gotas de chuva ou poeira (!) no reflexo dos raios do sol;

16) Todo escritor, ou sua grande maioria, sofre e se orgulha (em doses idênticas) de todos os defeitos que trazem em suas personalidades. Acreditam na importância deles para a trama da história que vivem neste mundo/universo em que foram inseridos... e se conformariam mesmo que o final fosse trágico, sem publicações nas prateleiras.

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