Sabe a Névoa? Filha da Neblina, Irmã da Bruma, sobrinha do Calafrio, neta do Inverno?
Estou conhecendo...
Me sugou por inteira.
Até chegar neste ponto, foi uma dura batalha entre "voltar" ou "seguir em frente". Lembro que parei bem no meio e estiquei os braços para alcançar melhor os dois espaços.
O caminho por onde andei, de onde vinha, era aquecido, verão, ensolarado... A luz doía nos olhos de tão claro.
O lado para onde tinha que seguir era turvo, sombreado. Esfriava o tempo inteiro. Senti que enrijeceu meus dedos e meus cabelos. Embranqueceu minha pele, ressecou meu rosto.
Mas alguma coisa dizia que deveria continuar. Outras vezes, inclusive, amedrontada (porém curiosa) pulei fora e de volta para dentro do caminho de onde viera.
Queria muito ficar ali! E me plantei como árvore! Sabe? Tinha energia para viver bem! Por que me arriscar?
Criei raízes! E não pude fazer mais nada... Como uma história que ninguém mais escreve. Como um personagem atirado na lata do lixo. Como autora de meu próprio destino, simplesmente havia escolhido parar porque de onde vinha, o que vivera, parecia suficiente.
Mas não foi. A luz enfraqueceu, algumas flores dos arredores murcharam e comecei a perceber que a névoa estava se aproximando de mim porque ela queria me pegar de qualquer jeito. Pior que isso: ela tinha que me pegar de qualquer jeito.
Então entendi que não se tratava de mim... Nem daquela fase turva... Mas da minha estrada. Eu só tinha aquele caminho, aquela direção. E, num determinado momento, não conseguiria mais enganar meu destino.
Está muito embaçado. Tentei correr, mas não consegui (tudo bem, trata-se do tempo alinhado com o tempo).
Tem sido assustador. Mas, agora pouco, encontrei um arco-íris! Na ponta mais próxima tinha duas safiras no chão. Quando me baixei para apanhá-las, percebi que não eram pedras, mas os olhos azuis de Ramza (minha gata siamesa de estimação), que me acompanhava silenciosa e sorrateira.
Tenho medo do que vai ser e como vai ser, mas não estou sozinha e para além de "arriscar", foi necessário.