Saturday, January 7

Celeste e seu personagem


Celeste acordou depois do meio-dia. Seu cabelo, desgrenhado, como sempre, estava oleoso, mas cheirosos. A blusa cinzenta tinha várias crostas, mas ela só conseguiu identificar três: Doritos, molho shoyo (como de costume) e pasta de dente.

As janelas estavam molhadas porque uma tempestade caiu pela noite. De madrugada, com muito frio, levantou no escuro e pegou um cobertor. Percebeu que derrubou alguma coisa, mas voltou para a cama com muito sono... Descobriria pela manhã.

Sentada na cama, percebeu a miniatura da Torre Eiffel no chão, d'uma viagem recente à França. "Foi isso que derrubei?" Abriu a boca se espreguiçando e perdeu a linha do raciocínio olhando para o tom laranja na pele branquinha. "Sol!"

Ela nem gostava. O frio era um grande aliado! Usava até como desculpa. Esticou as pernas e observou os próprios pés enquanto murmurava "Someone Like You" da Adele. Abriu as mãos na resta da luz e observou as linhas pensando em possíveis leituras.

Levantou e foi para o banheiro tirando a roupa. O chão não estava frio. Esperar um choque término na sola do pé e não tê-lo foi a melhor coisa que lhe acontecerá em semanas! Ligou o chuveiro e ficou olhando sua nudez no espelho.

"Que merda é essa?" Na infância, gostava de praia, de bronze. Gostava de brincadeiras que tivessem adrenalina! Lembrou do esconde-esconde e de como corria para salvar todos! Era incrível! Os amigos gritando "corre, Celeste! Corre!".

As cortinas balançaram deixando escapar um feixe de luz que entrou no banheiro e iluminou metade do seu rosto. O estopim. "Meu Deus!" Ela pensou quando tudo aconteceu... e porquê tudo mudou... E não encontrou resposta alguma. Mas olhou para o quarto e viu o objeto no chão.

"Eu sei." Como era possível que tivesse deixado de ser quem era? Não tinha troféus, mas tinha vitórias incríveis! Por que o resultado fora assumir um personagem criado por si mesma? Um parasita no mundo, cheio de sonhos conformados pela frase: não vai acontecer. Sofra!

As mãos tremiam. O espelho embaçara. Seu corpo, nu, pedia socorro. Alguém estava gritando por ajuda lá dentro... dela. Sua respiração travou, desregulou... Ela saiu do banheiro, despida, suada, procurando um diário antigo para ler uma coisa do passado...

As regras mudaram no banho. Sua vida, a partir dali. Às roupas manchadas, o lixo. À comida congelada, o fim. À comédia romântica e seriados, ação. Às músicas, companhia. Aos finais de semana, rua. Às confraternizações, vodka. À vida, oportunidade.



New Moon Score soundtrack. 

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