Quando Celeste estava entediada, assistia uma comédia romântica na companhia de sua gata e seu balde de pipoca com leite condensado. Quando estava triste, escutava músicas que traziam lembranças ainda mais tristes. Olhava fotografias piores e chorava até dormir entre soluços.
Quando estava feliz, analisava fatos. Agradecia, sempre, pelo que estava vivendo e aproveitava tudo da melhor maneira possível. Quando estava apaixonada, oscilava entre querer muito bem e mil dúvidas cheias de insegurança. Tinha receio de fazer alguma coisa errada, mas era dedicada, acima de tudo.
Quando estava irritada, não conseguia escrever... deixando o que já estava ruim, bem maligno. Quando superava a melancolia e estava depressiva, negociava a própria morte com Deus. E não morrer era, inevitavelmente, entediante (então, voltamos ao início de tudo).
- Vocês vão pegar esse taxi? - Celeste perguntou a três mulheres que pareciam esperar por alguém.
- Não, não. Está livre.
Celeste enfiou a cabeça na janela do carro e falou com o motorista:
- O senhor está esperando alguém, senhor? - Depois, pensou mentalmente: "que tipo de pessoa usa "senhor" duas vezes na mesma frase?"
- Não, querida. Pode entrar!
Ela nunca entendia porque as empresas realizavam confraternizações e obrigavam os funcionários a participar. O resultado era idêntico: alguém bebia demais e ficava puxando o saco do chefe e algum nerd fedorento dava em cima dela. Sua festa terminava sem graça porque sempre achava que iria conhecer o seu príncipe encantado.
"O carro pode... cair no rio - começou a negociar com Deus enquanto o taxista atravessava uma ponte. - Não, não. Morrer afogada é ruim... Bom, ele - pensou olhando para o motorista pelo retrovisor - poderia ter excesso de álcool no sangue, acelerar e bater... Isso mata rápido? Não quero sentir dores... Bom, eu posso morrer na batida. Então, o carro explode e meu corpo pega fogo. Assim, ninguém tem que se preocupar com cemitério, caixão ou velório. Puft! Desapareço!"
Começou a rir. Pegou o celular, ficou passando a tela para fingir que estava lendo alguma coisa no aparelho... Mas era realmente muito engraçado. "Que babaca!" Imaginou seus olhos caídos, cansados, seu rosto maquiado, seu corpo sentado no veículo e seus pensamentos ri-dí-cu-los.
"Posso morrer dormindo, talvez?", pensou destravando a porta de casa. A gata de estimação correu até o meio da sala, se jogou no chão e fez uma gracinha de barriga para cima. "Oh, céus!... Não, eu não posso morrer... Espero que não ter sido ouvida..." e olhou para cima, procurando uma Dona Morte revoltada.
"Não, não, não! Desculpe! Tem alguém me ouvindo, agora?" Procurou Dona Morte mais uma vez. "Não posso deixar minha gata! Passe depois. Bem depois!" Pediu mil perdões pelas coisas mais idiotas que já havia deixado sua cabeça pensar e se jogou no chão para acariciar seu bichinho de estimação.
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