nem só de Celeste vive este blog! (É, eu também sei que o último post ficou muito ruim. A ideia foi tão boa quanto todas as outras, mas o estado de espírito pesou um bocado e deu no que deu... Sorry!)
Então, gente, ontem assisti a um filme e perdi a hora. "Em seu lugar" (In Her Shoes, Curtis Hanson, 2005) conta a história de duas irmãs que moram juntas (sendo uma delas a Cameron Diaz, por sinal)... Uma é muito estudiosa, inteligente, trabalhadora... A outra é vagabunda, não tem emprego, rouba dinheiro... e usa os sapatos da irmã (tá aí o motivo do título do filme, que é baseado na única semelhança entre ambas: o tamanho do pé). O resto é confusão, desilusão, drama e pitadas de comédia.
Há duas cenas que me comoveram (dessas que fazem a gente choramingar e entupir o nariz)... E me prometi procurar pelos textos para dividir com todo mundo que lê o eSPELHO iNVERSO. Ambos são poemas citados no decorrer da narrativa, em inglês, dos escritores Elizabeth Bishop e E. E. Cummings. Como sei que nem todo mundo é obrigado a saber outra língua e por ter grande amor à portuguesa, vou repassar a tradução e disponibilizar a versão original neste
link. Divirtam-se! (Qualquer emoção é permitida.)
Uma Arte
A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.
E. Bishop: a norte-americana Elizabeth Bishop nasceu em Massachusetts, em 8 de fevereiro de 1911, e morreu 68 anos depois, em Boston. Em 1952, depois de uma viagem pela costa brasileira, Elizabeth encantou-se pelas montanhas de Petrópolis e lá permaneceu por longos quinze anos. Durante esse período, escreveu numerosos registros e poemas, como o transcrito acima.
Eu levo o seu coração comigo
eu levo o seu coração comigo (eu o levo no
meu coração) eu nunca estou sem ele (a qualquer lugar
que eu vá, meu bem, e o que que quer que seja feito
por mim somente é o que você faria, minha querida)
tenho medo
que a minha sina (pois você é a minha sina, minha doçura) eu não quero
nenhum mundo (pois bonita você é meu mundo, minha verdade)
e é você que é o que quer que seja o que a lua signifique
e você é qualquer coisa que um sol vai sempre cantar
aqui está o mais profundo segredo que ninguém sabe
(aqui é a raiz da raiz e o botão do botão
e o céu do céu de uma árvore chamada vida, que cresce
mais alto do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder)
e isso é a maravilha que está mantendo as estrelas distantes
eu levo o seu coração (eu o levo no meu coração)
E. E. Cummings: poeta norte-americano, nasceu em 1894 e morreu em 1962. Conquistou, ainda em vida, um lugar permanente entre os maiores poetas de nosso tempo. Ainda se comenta muito das suas inovações em tipografia e pontuação, que foram, por alguns, mal entendidas como meros “efeitos”, mas o leitor cuidadoso verá que elas são um aspecto de sua busca pela expressão mais pura e clara de seus pensamentos e sentimentos. Uma maneira de renovação da linguagem que só os grandes poetas conseguem. cummings era único dentre os poetas de seu tempo, pois era igualmente extraordinário na sátira e no sentimento e lutava vigorosamente contra a pomposidade e a pretensão. É considerado um dos poetas que escreveu os mais emotivos poemas de amor de todos os tempos.
Tô ouvindo a trilha sonora de "Tomates verdes fritos".