Thursday, February 23

Post direcionado


Eu acho que acontece. Fácil. Eu tento evitar, mas é impossível não imaginar um leitor. Sempre escrevemos para alguém, isso é básico na literatura. Alguns escrevem pensando num determinado público (mulheres, idosos, crianças, doentes, especialistas...), outros, em determinadas pessoas (simpatizante, inimigo, ex-namorado, paquera...). Até os diários, aqueles que ninguém mais lê, você escreve com um leitor em mente (nem que seja para a imagem que tem de si mesmo).

Eu nem sei direito porque resolvi falar disso. Na realidade, minto, acho até que sei... porque estou com uma pessoa na cabeça. Não que esteja escrevendo para ela, mas pensando nela como um exemplo. O fato é que... enquanto escrevo, algumas pessoas passam na minha cabeça. Vejo seus rostos... como se minhas palavras fossem meus olhos... e vigiasse as expressões de quem me lê. Às vezes, também penso nas pessoas que não conheço, que jamais conheci.

E abrindo um parênteses, acho que acabei de encontrar outra definição para o nome do blog porque, quando o post é realmente muito bom, daqueles que me fazem avisar várias vezes no Twitter e no Facebook, acho até que que não estou do lado averso, mas inverso. Então, nestes momentos, estou do lado analista, nas palavras, analisando minhas próprias expressões... contidas, imaginadas. Sou escritora de mim... para mim. É uma apoteose divina.

As músicas podem ajudar ativando sensações inspiradoras, também. Porque, quando abri a caixa de texto para o próximo post, na realidade, estava querendo escrever alguma coisa em inglês... Então, imaginei que alguém captaria a mensagem bem demais (o tal alvo) e desisti. Às vezes, concordo que... tudo que não é dito, tudo que não está aqui, é o que realmente importa, o que realmente conta, o que realmente dói, o que... está guardado sob a pele.



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 Battlefield Earth score - Hope At Last.

 O poder da trilha sonora! *-*

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Wednesday, February 22

Celeste escreveu


Sabe quando os anos vão se passando... E você acaba amarrada à certas coisas do passado, querendo saber onde foi que errou, se a intenção sempre foi das melhores? E por que ninguém responde?

Afinal de contas, onde vão parar as intenções? E se não terei resposta, por que diabos estou amarra? Qual a finalidade de fazer tudo cheia de... de.. ética e moral... se o que recebo em troca é inverso?


Muitas vezes, você é obrigado a optar por coisas que você não tem interesse de agregar. É ruim carregar o que não se tem vontade. Se desfazer do que não deseja se afastar, igualmente. A vida pode ser um presente, nos melhores dias. E uma penitência, nos piores.

Não quero mais escrever esta merda.



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 Ouvindo Whitney Houston. Mas é fossa demais. Não vale muito a pena. ¬¬'

 Seria capaz de abrir mão de muitas coisas por uma minoria. Still.

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Saturday, February 11

Celeste, livros e... orgasmos!


Uma das coisas mais legais em pedir pizza à noite, sozinha, é que sobra um bocado para comer na manhã seguinte... E ainda tem gente que coloca no micro-ondas, seiquela, quando, na realidade, o mais gostoso é comê-la na temperatura ambiente - pensou enquanto terminava de lavar a louça do jantar da sexta-feira.

Vou finalizar aquele livrooo hojeee! Muito ansiosa! Muito mesmo! Enquanto alguns se acabam em baladas, virando tequilas, lambendo sal e chupando limões: eu leio! O melhor de tuuudo é que assim que terminá-lo, vou começar a ler mais um, que estava querendo há dias! - continuou enquanto enxugava a pia.

Nunca entendi muito bem: sempre que estou pensando em livros, penso em orgasmos. Meus orgasmos. Será que tem alguma coisa a ver com satisfação? Ou... talvez... encare o sexo como poesia? Literatura? Quem sabe, um dia, resolvo perguntar a alguém... - Enxugou as mãos e foi para a cama... e seus livros.

Thursday, February 9

Celeste em: sonhos


Ela abriu os olhos e não conseguiu enxergar coisa alguma. "É noite?", foi tudo que pensou. Por alguma obra irregular do seu próprio destino, estava em casa. Ouvia o som do rádio que vinha da cozinha... e barulhos familiares. "Estou em casa? Mas que droga é esta?"

Levantou com rapidez, atordoada. Estava em seu quarto de anos atrás, um lugar que não existia mais. Ficou tão confusa que decidiu, por bem, desmaiar. Seu corpo caiu no chão e ela resolveu fechar os próprios olhos. Depois, se deu conta de que não estava desmaiada, só fingindo tudo.

Abriu os olhos... Estava na cama. O dia havia nascido. Se espreguiçou achando o sonho a coisa mais inútil que seu juízo já tinha enviado (porque ela gostava de interpretá-los. Tinha um livro na gaveta da mesinha de cabeceira para qualquer dúvida). "Por falar no livro..." Então percebeu que não estava em casa.

Coçou os olhos e abriu a boca. "É sério que não estou em casa? Por que não consigo me lembrar de como cheguei na casa da minha mãe?" Ouviu os mesmos ruídos da cozinha... Um cheiro de pré-almoço invadindo seu quarto azul, "azul da cor Celeste!", completou. "Ué, onde está o meu novo rosa?"

Quando acordou, estava no flat. O dia amanhecia com certa dificuldade. Quando isso acontecia, ela sabia que tinha que separar um casaco decente. Então, ouviu os mesmos sons na cozinha.  Mas estava no flat. Como era possível? Alguém havia invadido a própria casa e estava... cozinhando?

"Não gosto quando essas coisas acontecem", pensou arrancando os lençóis. Tentou se chatear, mas não conseguiu... Era quinta-feira. "Quinta-feira é sempre bem-vinda! É a expetativa da sexta, do sábado e do domingo!" E ela adorava saber que poderia ler noite à dentro.



Tô ouvindo o score de "Cruel Intentions" (antigão!).

Wednesday, February 8

Porque...

nem só de Celeste vive este blog! (É, eu também sei que o último post ficou muito ruim. A ideia foi tão boa quanto todas as outras, mas o estado de espírito pesou um bocado e deu no que deu... Sorry!)


Então, gente, ontem assisti a um filme e perdi a hora. "Em seu lugar" (In Her Shoes, Curtis Hanson, 2005) conta a história de duas irmãs que moram juntas (sendo uma delas a Cameron Diaz, por sinal)... Uma é muito estudiosa, inteligente, trabalhadora... A outra é vagabunda, não tem emprego, rouba dinheiro... e usa os sapatos da irmã (tá aí o motivo do título do filme, que é baseado na única semelhança entre ambas: o tamanho do pé). O resto é confusão, desilusão, drama e pitadas de comédia.

Há duas cenas que me comoveram (dessas que fazem a gente choramingar e entupir o nariz)... E me prometi procurar pelos textos para dividir com todo mundo que lê o eSPELHO iNVERSO. Ambos são poemas citados no decorrer da narrativa, em inglês, dos escritores Elizabeth Bishop e E. E. Cummings. Como sei que nem todo mundo é obrigado a saber outra língua e por ter grande amor à portuguesa, vou repassar a tradução e disponibilizar a versão original neste link. Divirtam-se! (Qualquer emoção é permitida.)

Uma Arte

A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.


E. Bishop: a norte-americana Elizabeth Bishop nasceu em Massachusetts, em 8 de fevereiro de 1911, e morreu 68 anos depois, em Boston. Em 1952, depois de uma viagem pela costa brasileira, Elizabeth encantou-se pelas montanhas de Petrópolis e lá permaneceu por longos quinze anos. Durante esse período, escreveu numerosos registros e poemas, como o transcrito acima.

Eu levo o seu coração comigo

eu levo o seu coração comigo (eu o levo no
meu coração) eu nunca estou sem ele (a qualquer lugar 
que eu vá, meu bem, e o que que quer que seja feito
por mim somente é o que você faria, minha querida)

       tenho medo

que a minha sina (pois você é a minha sina, minha doçura) eu não quero
nenhum mundo (pois bonita você é meu mundo, minha verdade)
e é você que é o que quer que seja o que a lua signifique
e você é qualquer coisa que um sol vai sempre cantar 

aqui está o mais profundo segredo que ninguém sabe
(aqui é a raiz da raiz e o botão do botão
e o céu do céu de uma árvore chamada vida, que cresce
mais alto do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder)
e isso é a maravilha que está mantendo as estrelas distantes

eu levo o seu coração (eu o levo no meu coração)

E. E. Cummings: poeta norte-americano, nasceu em 1894 e morreu em 1962. Conquistou, ainda em vida, um lugar permanente entre os maiores poetas de nosso tempo. Ainda se comenta muito das suas inovações em tipografia e pontuação, que foram, por alguns, mal entendidas como meros “efeitos”, mas o leitor cuidadoso verá que elas são um aspecto de sua busca pela expressão mais pura e clara de seus pensamentos e sentimentos. Uma maneira de renovação da linguagem que só os grandes poetas conseguem. cummings era único dentre os poetas de seu tempo, pois era igualmente extraordinário na sátira e no sentimento e lutava vigorosamente contra a pomposidade e a pretensão. É considerado um dos poetas que escreveu os mais emotivos poemas de amor de todos os tempos.



 Tô ouvindo a trilha sonora de "Tomates verdes fritos".

Thursday, February 2

Celeste extremista


Quando Celeste estava entediada, assistia uma comédia romântica na companhia de sua gata e seu balde de pipoca com leite condensado. Quando estava triste, escutava músicas que traziam lembranças ainda mais tristes. Olhava fotografias piores e chorava até dormir entre soluços.

Quando estava feliz, analisava fatos. Agradecia, sempre, pelo que estava vivendo e aproveitava tudo da melhor maneira possível. Quando estava apaixonada, oscilava entre querer muito bem e mil dúvidas cheias de insegurança. Tinha receio de fazer alguma coisa errada, mas era dedicada, acima de tudo.

Quando estava irritada, não conseguia escrever... deixando o que já estava ruim, bem maligno. Quando superava a melancolia e estava depressiva, negociava a própria morte com Deus. E não morrer era, inevitavelmente, entediante (então, voltamos ao início de tudo).

- Vocês vão pegar esse taxi? - Celeste perguntou a três mulheres que pareciam esperar por alguém.
- Não, não. Está livre.

Celeste enfiou a cabeça na janela do carro e falou com o motorista:

- O senhor está esperando alguém, senhor? - Depois, pensou mentalmente: "que tipo de pessoa usa "senhor" duas vezes na mesma frase?"
- Não, querida. Pode entrar!

Ela nunca entendia porque as empresas realizavam confraternizações e obrigavam os funcionários a participar. O resultado era idêntico: alguém bebia demais e ficava puxando o saco do chefe e algum nerd fedorento dava em cima dela. Sua festa terminava sem graça porque sempre achava que iria conhecer o seu príncipe encantado.

"O carro pode... cair no rio - começou a negociar com Deus enquanto o taxista atravessava uma ponte. - Não, não. Morrer afogada é ruim... Bom, ele - pensou olhando para o motorista pelo retrovisor - poderia ter excesso de álcool no sangue, acelerar e bater... Isso mata rápido? Não quero sentir dores... Bom, eu posso morrer na batida. Então, o carro explode e meu corpo pega fogo. Assim, ninguém tem que se preocupar com cemitério, caixão ou velório. Puft! Desapareço!"

Começou a rir. Pegou o celular, ficou passando a tela para fingir que estava lendo alguma coisa no aparelho... Mas era realmente muito engraçado. "Que babaca!" Imaginou seus olhos caídos, cansados, seu rosto maquiado, seu corpo sentado no veículo e seus pensamentos ri-dí-cu-los.

"Posso morrer dormindo, talvez?", pensou destravando a porta de casa. A gata de estimação correu até o meio da sala, se jogou no chão e fez uma gracinha de barriga para cima. "Oh, céus!... Não, eu não posso morrer... Espero que não ter sido ouvida..." e olhou para cima, procurando uma Dona Morte revoltada.

"Não, não, não! Desculpe! Tem alguém me ouvindo, agora?" Procurou Dona Morte mais uma vez. "Não posso deixar minha gata! Passe depois. Bem depois!" Pediu mil perdões pelas coisas mais idiotas que já havia deixado sua cabeça pensar e se jogou no chão para acariciar seu bichinho de estimação.