Monday, April 27

Desculpe, travesseiro!


Porque estou mentindo para você

Fiz o percurso de sempre – chequei as novidades, desliguei o computador, coloquei minha gata na caminha, organizei meu quarto, tomei banho, escovei os dentes, vesti o pijama, deitei, rezei, agradeci e pedi proteção às mesmas pessoas, apaguei a luz e fechei os olhos.

Mas eu não estou dormindo e continuo brincando de caleidoscópio com minhas pálpebras. Não tenho muita luz disponível, parece até que a noite ficou mais escura, e o meu azul é praticamente imperceptível.

O tempo parou de correr... Você percebeu, travesseiro?... É como se estivéssemos no instante do soluço deste universo... E até que tentei recorrer àqueles outros, para me proteger, mas eu não consegui sair do canto.

A minha personagem está sem respirar... Pode morrer?... ...Escrevi-lhe uma carta, mas também não consegui me expressar como de costume, e vi que ela chorou... Estou desesperada! Meu coração está completamente descontrolado, desejando que o mundo possa retroceder apenas alguns dias para que desfaça uma estupidez, mas eu ainda não tive sucesso.

Você tem aquela pílula? Da memória? Para lembrar-se de tudo que eu já disse, de tudo que é verdade, de tudo que ainda existe? E será que dá para acrescentar, inclusive, uma nova informação? Ah, sim, novíssima: meu inconsciente é nazista. Juro! Tem a tradição de querer descartar tudo que é imperfeito.

Estou falando sério, travesseiro, preciso me lembrar de parar com isso porque, qualquer dia desses, ainda vou me encontrar numa lata de lixo. Adivinha só? Eu – sou – humana! Tudo bem que minha cegonha interplanetária me largou no planeta errado, mas todas essa mania de perfeição acabará me aniquilando também.

Me lembre que jamais deverei descartar qualquer coisa, antes de tentar consertar. Porque sempre doerá muito mais, descobri tarde demais, que o defeito não estava naquilo que eu tinha, mas na minha ignorância de não saber usar.

...

Ah, que bom, o dia nasceu... ...Não da maneira correta, você sabe... Porque também não dormi. Meu corpo já não é o mesmo, também... Minha vista exausta, cheia de expectativa, elétrica e tensa, agora vai precisar encarar o mundo e continuar fingindo que está tudo bem... E que fotografias e sorrisos falsos são a promessa de um futuro bom.

Até mais tarde.


Chantal Kreviazuk - Blue
"Onde estava a inspiração? Aquele enlevo que o fazia levar consigo no bolso um caderno de esboços. Parou de andar. Deu de frente com um espelho inverso e se analisou. Viu aspectos que nunca imaginara, ângulos que certamente ficariam obscuros até o infinito do caixão."
Trecho do texto de Contra o Tédio, homenageando diversos blogs, inclusive - que bom! -, o Espelho Inverso! OBRIGADÃO - adoreeei!

Saturday, April 4

"What if it all means something?"


A Chantal Kreviazuk é uma cantora que tem diversas músicas tocadas no decorrer das temporadas da série Dawson's Creek. No mês passado, comecei uma maratona revendo todos os episódios em sequência. Aí, bem, dia desses resolvi baixar um álbum dela no computador. É pop e suave. Muito agradável...

Eis que, ouvindo essa coletânea de músicas com o título do post, me questionei sobre isso, de fato. Afinal de contas, "e se isso quiser dizer alguma coisa?". (Qualquer coisa!)

De repente, essa frase foi um grande problema durante anos. As coisas, pequenas coisas, aconteciam e sempre achei que teriam algum significado. O tal do "nada é por acaso"... Inclusive, não deve ter sido a toa que fiz o documentário sobre a Teoria do Caos para concluir minha graduação de Jornalismo. Eu acho que eu queria me provar que tudo tinha algum sentido.

E tem. Só que independe, não está procurando beneficiar qualquer pessoa. Então, e aí, no mês passado, mutei. É sério. Menos espectativas, certezas de mim e nada mais. Do que vou querer colher, do que vou desejar alcançar, das pessoas que tentarei manter, dos risos que vou escolher gargalhar, das lágrimas que vou selecionar e derramar... Vai depender de mim.

Mesmo assim, no final das contas, eu acho que, pensar que tudo poderia querer dizer alguma coisa grande e importante, como parcerias (que não caminharam), amizades perfeitas (que se acabaram), sonhos (que decepcionaram), viagens e lugares (que não brilham diferente no sol), etc, etc, etc, valeram e "quiseram dizer alguma coisa": que nem tudo na vida segue o rumo ou tem a importância que a gente resolve dar. Então, a melhor coisa de qualquer novidade aparente é: cautela e paciência.

A esperança é, de fato, a última que morre, mas ela não deve ser o primeiro sentimento no impacto da novidade. "Cautela e paciência".



What if it all means something? - Chantal Kreviazuk