Tuesday, August 4

Noite infeliz


A angústia começou quando escureceu – mantive a eletricidade daquela manhã. O sangue corria trêmulo, como se escorregasse excitado num tobogã de euforismo desaguante – eu queria continuar gastando energia.

Contra minha vontade, tapei a passagem de gritos e abafei risadas que não pularam de mim. Era como um passarinho numa gaiola aberta – queria voar, mas não tinha para onde ir.

Surgiram úlceras. Inquietude, incompletude. Chegou a coçar. Doía. Fiquei assim até me cansar de ter cansado porque não conseguia cansar. A TV piscou depois das 23h com uma bobagem... Esta mesma porcaria foi minha alforria por duas horas.

Quando os créditos estavam na tela, voltei a minha impaciência, mas já era tarde demais. Ninguém cantava Roberto Carlos no karaokê do vizinho. Os adolescentes não se exibiam ou falavam besteira no salão de festas.

Estava sozinha. Depois de tanto tempo, minha própria companhia não foi suficiente. Meu cheiro não me satisfez. Desejei alguém abstrato, com pouquíssima excentricidade.

Apaguei a luz da sala, escovei os dentes, lavei o rosto e fiquei me olhando no espelho. “Quanta baboseira a gente planeja quando assiste uma comédia romântica”. Deitei na cama e comecei a escrever. Não lembro como dormi, mas não queria fechar os olhos.

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